Movimento Correnteza realizou no último dia 6 de março o 1º Seminário Nacional de Estudantes de Universidades Privadas e debate a luta contra a mercantilização do ensino. Confira a síntese produzida no encontro para as próximas lutas!
Sem o amparo de políticas de assistência estudantil, o aluno da universidade privada, muitas vezes, é obrigado a trabalhar para pagar mensalidades abusivas, que vem aumentando cada vez mais. Segundo dados da Agência Brasil, em maio de 2020, 61,8% dos estudantes de universidades privadas precisavam trabalhar concomitantemente com os estudos, destes 69% trabalhavam de carteira assinada. Isso fazia com que 38,9% dos estudantes de instituições privadas tivessem uma carga horária de trabalho semanal entre 31 e 40 horas e 30% trabalhassem entre 41 a 50 horas semanais. Durante a pandemia mundial de COVID-19, a intensificação da crise capitalista e o desgoverno de Jair Bolsonaro provocaram um terrível panorama nos últimos anos, afetando muitos estudantes.
No Brasil, 13,5 milhões de pessoas estão desempregadas e um em cada quatro brasileiros trabalham menos do que poderia, de acordo com o IBGE, além disso, o país tem a quarta maior taxa de desemprego do mundo. Segundo pesquisa da Universidade Livre de Berlim, 59,4% da população brasileira (cerca de 126 milhões de pessoas) está em insegurança alimentar e, em relação aos estudantes, há uma matéria entitulada “'Ou ia pra aula ou comia': como insegurança alimentar está prejudicando universitários brasileiros” em que há diversos estudos de universidades do Brasil com dados alarmantes de estudantes que estão em situação de insegurança alimentar: estudantes que têm que comer 2 vezes ao dia, tomar remédio para dormir para não sentir fome, dentre outros (que não são casos individuais e distantes da realidade, mas uma amostra dessa). E também aponta que, em relação às Instituições Privadas, não há sequer pesquisas sobre essa questão e não há a regulamentação de Restaurantes Universitários.
Contra o aumento e por redução das mensalidades
Os dados acima nos mostram como os estudantes ficaram fragilizados nesse período pandêmico, reféns das políticas de morte do genocida Jair Bolsonaro. E, mesmo diante desse cenário, as empresas e mantenedoras das Instituições Privadas do país provaram que a educação, para eles, é mercadoria e que só o lucro interessa. Nesse contexto de desemprego, fome e miséria, além de não oferecer nenhuma assistência ao seu estudante, muitas universidades privadas aumentaram abusivamente suas mensalidades. Estudantes da Universidade Veiga de Almeida (UVA) denunciaram que alguns cursos chegaram a aumentar 100% do valor. Esses aumentos absurdos contribuíram demais para a evasão nas universidades e endividamento dos estudantes, que tinham seus nomes enviados a órgãos como SPC e SERASA.
Os aumentos das taxas e mensalidades já vinham prejudicando os estudantes desde antes da pandemia. Aumentar ou manter o valor das mensalidades no período pandêmico não foi apenas falta de empatia com a situação financeira dos alunos, mas uma enorme contradição, visto que por conta do isolamento social, muitas universidades ficaram fechadas com algumas só voltando para o presencial agora em 2022. Ora, se os alunos não estavam frequentando o espaço físico das universidades, os gastos como luz, água e estrutura (papel higiênico, sabão, etc.) reduziram drasticamente. Por que aumentar ou não reduzir a mensalidade?
A resposta é algo que o Correnteza já vem denunciando há um tempo. As mensalidades não reduziram e ainda aumentaram por quê, para os tubarões da educação, as universidades são apenas fonte de lucro. Porque eles viram na fragilidade e desespero de muitos estudantes a oportunidade de ganhar mais dinheiro. Por isso, a luta pela redução das mensalidades é urgente! Não podemos mais aceitar que esses grandes empresários tornem a educação em uma mercadoria do capitalismo, onde a redução de custo e qualidade pelo lucro é normal, onde só tem direito quem paga mais. Educação é direito e não privilégio! Redução das mensalidades já!
Democracia e participação estudantil
Uma palavra que passa longe do vocabulário na universidade privada é DEMOCRACIA e o debate sobre o retorno presencial mostrou a fragilidade da participação de estudantes e professores nas decisões dessas instituições. Para as universidades sob a direção do capital, estudante não tem que dar opinião e professor é só um empregado.
O exemplo mais escandaloso dessa gestão antidemocrática foi a hibridização dos cursos presenciais promovida pelo grupo Ânima. No dia 7 de março, estudantes da rede se manifestaram contra um aumento de 11% das mensalidades, enquanto os cursos passavam a ter apenas 2 dias de aulas presenciais na semana.
Mesmo nas instituições onde existem Conselhos Universitários, por vezes são espaços que se reunem de maneira protocolar e nada decidem sobre o futuro coletivo, exemplificou o vice-presidente do DCE da Unisuam no Rio de Janeiro. As decisões são unilaterais e levam em consideração apenas o interesse do grupo econômico que domina as ações da universidade.
Vale dar também o exemplo da Universidade Cruzeiro do Sul em São Paulo, onde o DCE não é reconhecido pela reitoria, que distribui e-mails para as coordenações de curso e professores proibindo os estudantes da entidade de darem recados na sala e distribuirem panfletos.
Ensino, pesquisa e extensão: que é isso?
O tripé do ensino superior brasileiro é absolutamente ignorado nas instituições privadas, onde o estudante desenvolve apenas as atividades de ensino que se resumem a ir às aulas e fazer prova.
Por vezes, o aluno passa toda a graduação sem ter a experiência da pesquisa e da investigação científica. Ao contrário do que se incentiva através de inúmeros projetos nas universidade públicas, que consideram corretamente que essa experiência é essencial para a formação crítica dos estudantes.
A prática da extensão, categoria que permite a universidade se conectar com a sociedade e o território ao seu redor, também é pouco explorada. Por vezes, a instalação de um polo universitário causa grandes impactos sociais, econômicos e políticos na região, que podem ser impactos positivos se ajudarem a solucionar os problemas locais através da produção científica e da relação com a comunidade. No entanto, essa não é a realidade nas universidades privadas, o que afasta o caráter social de nossa formação: servir a sociedade, afinal, acima dos interesses do capital.
Lutar e lutar contra a mercantilização do ensino
A experiência recente dos estudantes do grupo Ânima demonstrou, mais uma vez, a disposição de luta dessa juventude, que em sua maioria é trabalhadora e periférica. Para mudar a realidade de nossas universidades, somente é possível se organizando nas entidades e unindo os estudantes, em torno das diversas pautas que desaguam numa palavra de ordem: contra a mercantilização do ensino. Está comprovado que enquanto os grupos econômicos visualizarem na educação uma fonte de lucro, seremos prejudicados. É preciso construir uma sociedade em que 100% do ensino seja público, sem fronteiras e sem barreiras, onde a ciência sirva apenas à solução dos problemas comuns para a construção da justiça e da felicidade.
Maria Karolina - Militante do Movimento Correnteza na Universidade Católica de Salvador
João Casares - Vice-presidente do DCE Unisuam-RJ e militante do Movimento Correnteza
Isis Mustafá - Secretária-geral da UNE e militante do Movimento Correnteza
Comments