Por muito tempo assistimos a um desmonte sistemático das estruturas de educação pública no Brasil. Além da continuidade dos cortes orçamentários que impactam diretamente a manutenção das instituições e seu pleno funcionamento, vimos também durante o governo de Bolsonaro o surgimento de uma série de ataques sistemáticos à educação, ou seja, as escolas e universidades foram o centro dos ataques do ex-presidente. O campus da Universidade Federal de Sergipe, no município de Laranjeiras também tem sido alvo de constantes ataques, inclusive sendo ameaçado de um possível fechamento, depois de sofrer falta de manutenção e descasos para com o corpo estudantil, prejudicando assim cerca de 400 estudantes. O CampusLAR foi implantado a partir da parceria entre a Universidade Federal de Sergipe, Prefeitura Municipal de Laranjeiras, Governo do Estado de Sergipe e Governo Federal por meio da cooperação do Programa Monumenta, vinculado ao IPHAN-MINC. Essa parceria permitiu a recuperação do complexo conhecido como "Quarteirão dos Trapiches", para abrigar mais um campus da UFS no interior do estado, ampliar a atuação da UFS com novos cursos e preencher lacunas na formação de profissionais na região.
O transporte público e de qualidade também é muito importante na vida de todos, e o que vem acontecendo com os alunos da UFS no campus Laranjeiras é mais um desses absurdos promovidos pelo governo, por conta dos ataques e cortes de verbas, os alunos não conseguem se locomover até o campus devido a ausência de transporte adequado, impossibilitados de chegar às salas de aula, os estudantes se encontram em uma situação muito difícil, apenas alguns conseguem pagar uma passagem de ônibus para chegar ao campus, lhes sendo negado inclusive o direito a meia passagem, sob a desculpa de que o município de Laranjeiras não é considerado região metropolitana de Aracaju, uma grave denúncia da retirada de um importante direito dos estudantes, uma valiosa conquistas da luta estudantil. Desembolsar tais valores todos os dias para pagamento de tarifas que favorecem apenas uma minoria de empresários fica totalmente inviável para a grande maioria, que precisava de transporte público para chegar à universidade. Sem ônibus, os alunos não conseguem acessar o campus e muitas vezes têm que pagar altas taxas pelo transporte alternativo, impossibilitando o acesso da grande maioria das alunas e alunos a Universidade.
Essa situação do transporte no CampusLAR vem acontecendo desde o ano passado. Os estudantes relataram inconstâncias e atritos no BUSUFS, originalmente um ônibus que faria o transporte entre o Campus de São Cristóvão e o Campus de Laranjeiras, administrado pela Divisão de Logística e Transporte (DITRAN) e a Superintendência de Serviços de Infraestrutura (INFRAUFS), hoje em dia o meio disponibilizado para o transporte é uma van, com 16 lugares a menos que o veículo anterior, esta troca porém, foi feita sem a consulta dos alunos e impactou negativamente suas rotinas, com apenas 20 vagas, esse veículo é insuficiente para os horários de pico do transporte. As duas entidades citadas sugeriram reduzir a circulação dos veículos para trocar a van novamente pelo ônibus, mas nada foi concretizado ainda, logo, podemos concluir que, de forma desonesta, após criarem mais uma problemática no transporte diário dos alunos, para justificar o corte dos horários, também apresentam desinteresse em colaborar com as necessidades dos estudantes.
Acusar a ausência de passageiros é, no mínimo, uma atitude controversa, visto que isso se dá pelo desdobramento dos estudantes ao se adaptarem a um transporte ofertado sem qualidade, que não se adequa às necessidades dos alunos, buscando meios alternativos e, na necessidade de comparecer às aulas e na ânsia de retornar para casa num horário digno, acabam optando por pagar o transporte coletivo e intermunicipal quando conseguem e pegando outros transportes gratuitos sem autorização, medida que fora barrada diversas vezes.
Gilberto Oliveira, estudante do 4° período de Arquitetura e Urbanismo no CampusLAR foi um dos discentes afetados com o não pagamento do auxílio moradia e do Programa de Apoio ao Desenvolvimento da Aprendizagem Profissional (Prodap) e contou da angústia que sentiu por não saber quando o auxílio voltaria, já que o mesmo usa esses recursos para o pagamento de seu aluguel por exemplo. Denunciou também o completo descaso por parte da gestão atual do diretório central dos estudantes (DCE) com as demandas do campus, deixando assim centenas de estudantes desassistidos. Gilberto também é integrante do Centro Representativo Independente de Arquitetura e Urbanismo (CRIAR) e faz parte do escritório modelo de arquitetura e urbanismo da UFS Laranjeiras, o EMAU Trapiche, que tem feito importantes contribuições em assessoria técnica e extensão universitária popular, contribuindo inclusive com os moradores da Ocupação João Mulungu, prédio que havia sido abandonado a mais de 7 anos pela UFS, o que prova o projeto do governo de sucateamento das universidades, mas que hoje serve de moradia para dezenas de famílias organizadas pelo movimento de luta, nos bairros, vilas e favelas (MLB).
O primeiro semestre de 2023 também já começa inclusive com o atraso na reabertura do restaurante universitário nos campus da UFS. Com a divulgação das datas para reabertura dos RUs, foi infirmado a contratação de novas empresas para o fornecimento de alimento, o que provocou o adiamento da abertura dos RUs para um período de transição e instalação das novas empresas. Os campus São Cristóvão, Aracaju, Laranjeiras, CODAP e Lagarto tiveram sua abertura apenas no dia 16/01/2023. O campus Itabaiana reabriu no dia 23/01/2023, enquanto que o campus agreste permaneceu fechado na UFS por um mês, deixando os estudantes largados à própria sorte para garantir suas refeições diárias com qualidade nutricional.
Em um contexto em que mais de 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil, incluindo mais de 1 milhão em Sergipe, é preciso fortalecer as redes de articulação para que nossas vozes sejam ouvidas e mobilizadas para garantir o direito fundamental à alimentação de qualidade. É de extrema importância que ações devem ser pensadas e implementadas imediatamente, assim como o movimento Correnteza vem pressionando por meio de denúncias para agilizar a reabertura imediata dos restaurantes universitários e denunciando o descaso com a educação. Repudiamos veementemente o descaso com os estudantes.
É urgente enfrentar os ataques à educação promovidos pelos últimos governos através de cortes de verbas bilionários, que deixam as universidades permanentemente ameaçadas de fechamento, impossibilitando o acesso a uma educação pública e de qualidade, encerrando programas de pesquisas, limitando o quantitativo de bolsas e auxílios da assistência estudantil, além dos transporte, assim como também é de extrema importância que as universidades tenham uma política de segurança, principalmente com a vida das mulheres e não apenas para o patrimônio. Mais investimentos são necessários, com câmeras, melhor iluminação, mais profissionais e a necessidade da devolução dos recursos de segurança que foram extintos e colocaram um serviço essencial nas mãos de empresas terceirizadas. Mais segurança, para que episódios como o feminicídio da jovem estudante de jornalismo Janaína da Silva Bezerra, de 22 anos, dentro das dependências da Universidade Federal do Piauí, no último sábado (28) não aconteçam novamente.
Rodrigo Cerqueira, militante do Correnteza em Sergipe
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