Está em curso um grande retrocesso para a educação brasileira: a implementação da Portaria Nº 2.117, autorizando que 40% da carga horária de cursos presenciais sejam ofertados de forma semipresencial. Essa medida faz parte do projeto elitista de sucateamento das universidades, e se estabelece sem debate com a comunidade acadêmica. Nas universidades privadas já é permitido 20% de aulas online em cursos presenciais, o que é usado pelos donos dessas instituições para economizar e o processo de aprendizagem fica totalmente deficitário.
imagem: O Tempo
Os dados sobre evasão universitária no período da pandemia são assustadores, uma vez que segundo o CONJUVE (Conselho nacional de juventude), 43% dos jovens de 18 a 29 anos pensou em parar de estudar e aqueles que já estavam nas universidades, 3,5 milhões evadiram. O resultado disso foi uma queda 18,8% do número de estudantes formados durante os anos de pandemia. Sabemos também que é outra consequência da impossibilidade de realizar políticas de permanência dos estudantes da modalidade EAD por verba PNAES (Plano Nacional de Assistência Estudantil), nas universidades públicas, e o abando dos estudantes do EAD nas privadas.
Para acrescentar, os últimos anos de ensino remoto no Brasil escancararam as disparidades socioeconômicas que os estudantes vivem hoje, dados do FONAPRACE (fórum nacional dos pró-reitores de assuntos estudantis) mostram que aproximadamente 70% dos estudantes das universidades federais estão englobados na faixa de renda de até 1,5 salário mínimo per capita, o que se deve a popularização do acesso à educação e também a crise econômica que vivemos hoje que coloca a maior parte da juventude brasileira para a pobreza.
É importante destacar a diferença entre o EAD (ensino a distância) e o processo de sucateamento que estão tentando implementar no ensino presencial. As NTICs (novas tecnologias de informação e comunicação) são um apoio para o processo de ensino e aprendizagem. E o EAD, quando possui os investimentos necessários, cumpre um importante papel de levar o ensino a lugares distantes dos centros universitários e na formação de pessoas que não teriam condições de fazer um curso presencial. Por isso deve ser valorizado e ter mais investimentos na qualificação dos professores, tecnologia e na garantia de polos para atender os estudantes dessa modalidade.
Mas no ensino presencial, assim como nas universidades privadas, a implementação de aulas online nas instituições públicas tem o objetivo de diminuir o efetivo de profissionais da educação e rebaixar seus salários, sejam técnicos, docentes ou terceirizados; cortar gastos com obras para manutenção e ampliação de espaços físicos das instituições.
Esse projeto é a desculpa perfeita para novos cortes de verbas, com isso aumentar a evasão universitária e dar mais um passo para a destruição definitiva da universidade pública. Por isso, exigimos que a opção de cada estudante pelo ensino a distância ou presencial seja respeitada e não utilizada para tirar investimentos da educação. Queremos mais investimentos nos cursos presenciais e exigimos que os componentes curriculares obrigatórios dos cursos permaneçam de forma 100% presencial.
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